Filosofia
O homem é a obra-prima do Deus
Criador aqui na terra. Foi criado à Sua imagem e semelhança, o que significa
que é especial diante de toda a criação. Ao contrário dos vegetais, tem vida
ativa; ao contrário dos outros animais, tem vida intencional. É capaz de agir
com intencionalidade, com propósito, pode aprender a fazer coisas novas e
coisas velhas de um jeito novo. Tem criatividade e pode agir com base na
experiência, no planejamento, no raciocínio. Por vezes age por impulso, mas a sucessão
de ações que formam sua vida, suas escolhas e o resultado de tudo o que é e faz
aponta para uma forma de pensar e ver o mundo.
Como seres humanos, as pessoas
agem baseadas em suas crenças e visão de mundo. Essas crenças são essenciais,
pois elas norteiam, dão rumo e significado para o que fazem. Por isso, existe
uma disciplina, um ramo dos estudos que se aplica em discutir o que as pessoas
são, o que é o mundo ao seu redor, o que é e como é possível aprender esta
realidade ao redor, além de tentar desvendar o que é e como é possível ensinar,
uma vez que os homens são seres que aprendem e ensinam ao mesmo tempo. Esta
disciplina é a filosofia.
Os desbravadores têm uma filosofia, ou seja, tudo o que o
Clube de Desbravadores faz tem um sentido, uma base, um alicerce de conceitos e
princípios imutáveis que são extraídos da Palavra de Deus. Da Bíblia, e somente
dela, é tirada a visão de mundo do movimento do Clube de Desbravadores. Assim,
o que é feito no Clube todos os domingos, em todos os acampamentos, caminhadas,
desfiles, camporis, congressos, com as unidades ou ainda individualmente em
cada lar e trabalho, enfim, tudo o que é feito deve estar embasado num firme
alicerce filosófico. Se essa base filosófica não for respeitada, o Clube corre
o risco de se tornar um clube de aventura, de escotismo ou um simples
departamento social da Igreja e nada mais. O Clube só será
relevante se aprender a pensar de maneira relevante.
A filosofia tem seis áreas tradicionais em que se
subdivide: a metafísica, a epistemologia, a
lógica, a ética, a estética e
a política. Apesar das palavras difíceis, todo líder de
desbravador deve conhecê-las e entender o seu significado. Pensar e pensar com
clareza de ideias, com profundidade, querer saber e ir afundo sobre aquilo que
se ama é uma atitude sensata e esperada da liderança dos juvenis.
A seguir estão definidos cada um dos termos acima e se
refletirá um pouco sobre o que deve ser o sentido da ação do Clube de
Desbravadores.
Metafísica
Se um Desbravador pergunta ao seu Conselheiro: “você
realmente acredita em Deus? Você nunca O viu e Ele obviamente nunca falou com
você de maneira que você pudesse ouvir como eu estou falando com você…” Como
ele deveria responder? Não se deve responder como as pessoas estão acostumadas
a responder, automaticamente. É necessário pensar!
A palavra metafísica quer dizer “além da física”,
isto é, aquilo que existe e se conhece além do que os sentidos podem captar.
Não são vistos, não são tocados, não são cheirados, não são escutados e não
são degustados, mas ainda sim é possível ter certeza. “Metafísica vem
a ser um sistema de ideias e de teses que pretende explicar o mundo por meio de
princípios gerais e abstratos.” (Antônio Teles, Introdução ao estudo
de filosofia, p. 58).
A sociedade atual vive num mundo materialista, onde só se
acredita no que se vê ou toca. Entretanto, a Bíblia diz que da boca do Senhor
Jesus saiu as seguintes palavras: “bem aventurados os que não viram e
creram” João 20:29. Isto prova, com certeza advinda da Palavra de Deus,
que há uma existência além das aparências. Os Desbravadores acreditam em muito
mais do que é revelado pelos sentidos e pela ciência. Falando desta questão
fundamental da filosofia do Clube de Desbravadores, o teólogo e filósofo
adventista George Knight pergunta: “por que as igrejas cristãs gastam
milhões de dólares a cada ano em sistemas privados de educação quando os
sistemas educacionais públicos estão à disposição? É devido às diferentes
concepções da natureza da realidade definitiva, a existência de Deus, o papel
de Deus nos assuntos humanos, e natureza e papel dos seres humanos como filhos
de Deus. Homem e mulher, em seu mais profundo nível, são motivados por crenças
metafísicas. Estão ansiosos por viver e morrer por estas convicções”. (George
Knight, Filosofia e educação: uma introdução da perspectiva cristã, p. 18).
Logo, torna-se claro que o
Clube de Desbravadores entende que o planeta Terra foi criado pelo Deus triúno,
como é revelado a nós na Bíblia. (Gênesis 1 e 2).
O Clube aceita também que a sua
realidade é permeada por uma guerra cósmica, chamada de Grande Conflito, como
explicitada em Apocalipse 12:7 e que essa guerra alcançou o planeta Terra
(Gênesis 3) e que isso levou a uma luta sem quartel, uma luta aberta e sem
trincheiras, mas com lados definidos, como está descrito de maneira
esquematizada e profética no livro de Daniel, sobretudo no capítulo 7, versos
21 e 25; capítulo 8, versos 9 a 12.
Os Desbravadores compreendem
que essa guerra cósmica acontece também em cada coração humano, de maneira
espiritual e contínua, sem tréguas. O patriarca Jó se preocupava com seus
filhos, pois sabia que além das demonstrações físicas de adoração, era no
coração do homem que se dava a verdadeira guerra entre o bem e o mal (Jó 1:5).
É por isso que o salmista diz que deve-se esconder a Palavra no coração (Salmo
119:11), pois desta forma as pessoas estarão protegidas. Jesus ainda afirma que
são os limpos de coração que verão a Deus (Mateus 5:8) e os verdadeiros vencedores
em Cristo, numa Nova Aliança com Ele, terão a Lei de Deus em seus corações
(Hebreus 8:10).
O Clube de Desbravadores
entende a realidade que é possível sentir apenas como parte da grande realidade
de Deus. O que se toca, vê, ouve, cheira e degusta, tudo tem a ver com a
realidade de Deus. Ele criou, Satanás tenta destruir e cada pessoa é chamada a
escolher entre o bem o mal, entre o ódio e o amor. As palavras ditas não são
apenas vocábulos da língua, são benção ou maldição, os olhares não são apenas
foco visual, contemplam a Deus ou ao seu inimigo. O que se come não é apenas
alimento, ou se nutre o templo do Espírito ou o templo da idolatria.
Como os seres humanos não são
bons por natureza, devem reconhecer que possuem uma inclinação para o pecado
(Gênesis 6:5). Com essa realidade em vista, têm que se agarrar ao único meio de
salvação, Jesus. Para se agarrarem a Cristo, devem diariamente negar seu
próprio coração, suas opiniões, sua natureza e o seu eu, aceitando seguir a
Cristo, mesmo em meio ao sacrifício (Mateus 16:24-27).
Nada é neutro, nada é irrelevante ou pequeno na realidade
do Grande Conflito. A recreação, o vestuário, o discurso, o programa, os
eventos, tudo que é feito no Clube de Desbravadores deve existir para adorar a
Deus.
Epistemologia
Um líder, ao instruir uma Especialidade, se depara com a
seguinte pergunta de um Desbravador: “como você sabe que isto está
certo?”. Um líder medíocre responderia: “porque sim!”. Um
líder razoável responderia: “porque eu estudei!”. Um líder de
verdade responderia: “Vamos descobrir juntos!”.
A palavra epistemologia quer dizer “estudo do
conhecimento”, ou seja, é uma parte da filosofia interessada em estudar
como aprender, o que aprender e se o que se aprendeu tem alguma validade,
utilidade e se condiz com a realidade. Algumas pessoas, e isto não será difícil
de encontrar mesmo entre os juvenis, não acreditam em mais nada, são céticos.
Outros se tornam absolutamente crédulos e acabam se tornando
“Maria-vai-com-as-outras”, o que é condenável biblicamente (Efésios 4:14).
Alguns adotam uma postura ambígua, chamada de “agnóstico”, crer ou não crer não
faz diferença, concordam com tudo e não aceitam nada. Talvez estas posturas
sejam muito comuns pelo número excessivo de explicações falsas sobre tudo. É aí
que o líder deve ter uma visão clara a respeito da verdade.
O que é a verdade? É possível
conhecê-la? É possível transmiti-la? Se um líder tem dúvidas a respeito disso,
precisa ler a Bíblia com dedicação e oração. O Clube de Desbravadores tem uma
epistemologia, ele sabe o que é a verdade, como pode conhecê-la e como
transmiti-la.
Em primeiro lugar, a verdade não é relativa. “A
verdade é a expressão exata da realidade”, conforme ensina Gerson Pires
de Araújo . A frase quer dizer que a verdade é o que a realidade é e não uma
opinião do ser humano. Opinião e verdade são coisas diferentes. O que pode ser
relativo é a opinião, o ponto de vista, mas jamais a verdade. Contudo, existem
realidades provisórias, por exemplo, a idade, a residência, o conhecimento.
Assim, a verdade, ou seja, as expressões, as imagens ou as descrições destas
realidades podem mudar. Por outro lado, as realidades eternas sempre expressarão
verdades eternas e imutáveis.
Outro aspecto fundamental é a
questão da realidade pessoal. As pessoas são más porque estão longe de Deus.
Longe fisicamente, longe volitivamente (por sua vontade), longe afetivamente e
longe racionalmente. Assim, distantes da fonte da vida, estão morrendo.
Contudo, essa realidade é provisória, em Cristo essa realidade pode mudar. O
conhecimento da verdade e a decisão consagrada de se aproximar da verdade podem
alterar essa realidade, elevando-os a uma imagem mais apurada de Deus em si.
Isto se dá através do processo de salvação, que é o mesmo processo de educação,
processos que são, em última análise, o objetivo do Clube de Desbravadores.
“Restaurar no homem à imagem de seu Autor,
levá-lo de novo à perfeição em que fora criado, promover o desenvolvimento do
corpo, espírito e alma para que se pudesse realizar o propósito divino da sua
criação – tal deveria ser a obra da redenção. Este é o objetivo da educação [do
Clube dos Desbravadores], o grande objetivo da vida.” (Ellen White, Educação,
p. 15).
Embora a realidade seja a base
da verdade, nem todas as realidades estão à disposição. Existem coisas que são
reais e muitos simplesmente não sabem e nunca saberão. Entretanto, existem
realidades que se abrem às pessoas e destas pode-se extrair a verdade. Assim,
o conhecimento para o Clube de Desbravadores é algo possível e desejável, pois
saber a verdade é se aproximar da realidade, ensinar é conduzir os juvenis à
realidade.
O currículo do Clube está repleto de conhecimentos úteis
ao Desbravador, mas quais destes conhecimentos são os mais importantes? Ora,
Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida” (João
14:6). Assim, o conhecimento mais importante é Jesus Cristo, a verdade eterna.
Contudo, sabe-se que a Palavra de Deus é verdade. Cristo afirmou: “a
Tua palavra é a verdade” (João 17:17), logo, Jesus é a verdade e o
que Ele afirma também o é. Será que apenas o Novo Testamento seria verdade
então? Não. Sua Lei é verdade, afirma o salmista no Salmo 119:142, bem como os
escritos do Antigo Testamento, pois o salmista também afirma no Salmo 119:160
que “a Tua palavra é a verdade desde o princípio, e cada um dos Teus
juízos dura para sempre”. Mas existem outras verdades? Sim. Tudo o que
conduz a Cristo é verdade. Paulo diz que “o que de Deus se pode
conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas
invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua
divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas,
para que eles fiquem inescusáveis” (Romanos 1:18-20). Assim é
possível perceber que a natureza criada é uma revelação de Deus e, portanto,
uma verdade. Nisto encontra-se o fundamento último de como deve se usar a
natureza no currículo do Clube de Desbravadores.
Pelo que foi descrito acima, é possível entender que a
verdade começa com Cristo, criador, redentor e mantenedor da vida. Esta verdade
pode ser encontrada em Sua palavra de maneira muito clara e inequívoca. No
entanto, é possível se valer ainda desta verdade encontrada na natureza,
embora em parte desfigurada pelo pecado.
“Desde que Deus é a fonte de todo o
verdadeiro conhecimento, é, como temos visto, o principal objetivo da educação
dirigir a mente à revelação que Ele faz de Si próprio”. (Ellen White, Educação,
p. 16).
Daí o fato de estudarmos as
Especialidades de natureza.
Como é possível ensinar a verdade?
O Clube de Desbravadores busca na Bíblia as formas e metodologia para ensino da
verdade. A seguir estão os princípios do ensino segundo nossa filosofia:
·
O ensino deve ser pessoal: o
método de Cristo sempre foi corpo a corpo. Ele ensinava pessoalmente a seus
discípulos. Ele ensinava junto ao mar (Mateus 4:1), Ele ensinava nas sinagogas
(Mateus 6:2) ou no templo (Mateus 12:35). Assim, sendo em ambiente cotidiano
ou em ambiente formal, Cristo ministrava pessoalmente às pessoas. Em seu
trato, Ele tinha carinho e cuidado, como pode-se ver no episódio com as
crianças (Mateus 19:14; Marcos 10:14; Lucas 18:16). Mas, ao mesmo tempo em que
era terno e cuidadoso, era enérgico e tinha autoridade no que falava (Mateus
7:29; Marcos 1:22).
O ensino pessoal não
necessariamente era direto, pois Cristo enviava e envia seus discípulos hoje
(Mateus 10:5; 28:19,20). Contudo, em Cristo, os líderes podem ser o rosto e as
mãos do Salvador na vida de cada juvenil.
Hoje podemos ver esse método reproduzido em uma Unidade
de Desbravadores e seu Conselheiro.
“A ilustração mais completa dos métodos de
Cristo como ensinador encontra-se no Seu preparo dos doze primeiros discípulos.
Sobre estes homens deviam repousar pesadas responsabilidades. Escolhera-os como
homens a quem Ele poderia infundir Seu Espírito e que poderiam ficar
habilitados a levar avante Sua obra na Terra, quando Ele a deixasse. A eles,
mais do que a todos os outros, proporcionou as vantagens de Sua companhia.
Mediante associação pessoal, produziu nestes colaboradores escolhidos a
impressão dEle próprio. ‘A vida foi manifestada’, disse João, o discípulo
amado, ‘e nós a vimos, e testificamos dela.’ I João 1:2.” (Ellen White,
Educação, p. 84).
· O ensino deve ser prático: a
ideia de dissociar teoria e prática não é típica da forma dos antigos hebreus
transmitirem o conhecimento. É uma forma mais ocidental, de herança grega. A
educação a que Cristo se submeteu em seu lar e a que ele ofereceu aos seus
discípulos sempre foi essencialmente prática. Ensina-se e aprende-se fazendo. O
grande sermão das Bem-aventuranças é mais uma descrição de atitudes de
conceitos abstratos (Mateus 5,6 e 7).
Deus, em seu infinito amor,
proveu lições de Sua preciosa graça através de práticas simbólicas,
demonstrando ser esta uma forma superior de ensino.
Hoje podemos ver esse método reproduzido em uma Unidade
de Desbravadores e seu Conselheiro.
“A verdadeira educação não consiste em forçar
a instrução a um espírito não preparado e indócil. As faculdades mentais
deverão ser despertadas e o interesse suscitado. E isto o método divino de
ensinar havia tomado em consideração. Aquele que criou a mente e estabeleceu
suas leis, providenciou para o seu desenvolvimento de acordo com aquelas leis.
No lar e no santuário, mediante as coisas da natureza e da arte, no trabalho e
nas festas, na construção sagrada e pedras comemorativas, por meio de métodos,
ritos e símbolos inumeráveis, deu Deus a Israel lições que ilustravam Seus
princípios e preservavam a memória de suas maravilhosas obras. Então, quando
surgiam perguntas, a instrução que era dada impressionava o espírito e o
coração”. (Ellen White, Educação, p. 41).
Cristo utilizou
sistematicamente esse método ao ensinar por parábolas e extrair da vida prática
os exemplos para suas instruções (Mateus 13:34 e 35). (Ex. Especialidade de
Arte de contar histórias cristãs).
Além do que é chamado de teorização prática, encontra-se
na Bíblia uma ênfase na prática em si, como método de aprendizagem. Jesus
realizava milagres em público, enviava os discípulos para organizarem as
coisas, ia com eles às sinagogas e ao templo, comia e festejava com as pessoas,
enviava seus discípulos ao trabalho de cura e pregação e depois os recebia e
avaliava o trabalho e, ainda, por fim, perdoou pessoalmente seus agressores.
“Ensinai as coisas fundamentais. Ensinai aquilo
que é prático. Não deveis fazer grande alarde perante o mundo, dizendo o que
esperais fazer, como se estivésseis a planejar algo maravilhoso. Não,
certamente. Não vos orgulheis nem dos ramos de estudos que esperais ensinar,
nem dos trabalhos industriais que esperais fazer; mas dizei a todo que
perguntar, que tencionais fazer o melhor que possais a fim de dar a vossos
estudantes [Desbravadores] um preparo físico, mental e espiritual que os
habilite a serem úteis nesta vida, e os prepare para a vida futura, imortal.”
(Ellen White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 205).
· O ensino deve ser contínuo: o
líder não ensina apenas em ocasiões especiais, antes ele deve compreender e
aceitar a perspectiva cristã de ensino contínuo. Deuteronômio 6:6-8 orienta que
o ensino deve ser em todo o tempo, em todo o lugar e em todas as situações da
vida.
“Quando se desperta um verdadeiro amor pela
Bíblia, e o estudante [Desbravador] começa a compenetrar-se de quão vasto é o
campo e quão precioso seu tesouro, desejará lançar mão de toda oportunidade
para se familiarizar com a Palavra de Deus. Seu estudo não se limitará a
qualquer tempo ou lugar especial. E este contínuo estudo é um dos melhores
meios de cultivar amor pelas Escrituras.” (Ellen White, Conselhos aos
professores, pais e estudantes, p. 463).
·
O ensino deve ser progressivo: não
é plano de Deus que todo o conhecimento possível entre na mente dos Líderes e
Desbravadores de uma vez. A paciência, o método, a perseverança e a disciplina
são atributos desejáveis da verdadeira instrução no Clube de Desbravadores.
Existem mistérios do amor de Deus que não foram revelados ainda e muitos outros
levarão a eternidade para se tornarem conhecidos. Ex. Classes
regulares de 10 à 15 anos.
“A santidade, ou seja, a semelhança com Deus
é o alvo a ser atingido. À frente do estudante existe aberta a senda de um
contínuo progresso. Ele tem um objetivo a realizar, uma norma a alcançar, os
quais incluem tudo que é bom, puro e nobre. Ele progredirá tão depressa, e
tanto quanto for possível em cada ramo do verdadeiro conhecimento”. (Ellen
White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 24).
O sábio afirmou: “Mas a vereda dos justos é como
a luz da aurora, que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Provérbios
4:18).
Cristo, na parábola dos
talentos, afirma que a fidelidade no pouco poderá levar à abundância (Mateus
25:21 e 23).
Paulo reconhecia que o conhecimento de Deus é
progressivo. Desta forma aconselhou aos tessalonicenses que “assim andai, para que possais progredir cada vez mais”.(I Tess. 4:1). Em outras versões aparece a expressão
“abundar”, dando o sentido de expansão, aumento paulatino.
“Deve haver contínuo esforço e constante
progresso para a frente e para cima, rumo à perfeição do caráter”. (Ellen
White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 365).
· O ensino deve ser equilibrado: o
conceito de temperança e equilíbrio é um fundamento epistemológico do Clube de
Desbravadores. A passagem bíblica que resume este conceito se encontra em Lucas
2:52: “E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para
com Deus e os homens”.
“A verdadeira educação significa mais do que
avançar em certo curso de estudos. É muito mais do que a preparação para a vida
presente. Visa o ser todo, e todo o período da existência possível ao homem. É
o desenvolvimento harmônico das faculdades físicas, intelectuais e espirituais.
Prepara o estudante [Desbravador] para a satisfação do serviço neste mundo, e
para aquela alegria mais elevada por um mais dilatado serviço no mundo
vindouro”. (Ellen White, Educação, p. 13).
Contudo, a epistemologia do
Clube de Desbravadores assume como base de ensino as atividades físicas ao ar
livre, pois o Clube é um programa educacional-recreativo.
· O ensino deve se apoiar nas três fontes básicas do conhecimento
da verdade: a natureza não descreve o plano da
salvação. A Bíblia não descreve todas as leis naturais que podemos encontrar no
estudo das ciências modernas. O conhecimento da vida de Jesus não é um relato
minucioso de todas as questões éticas de nosso tempo, mas de princípios
eternos. Assim, o verdadeiro líder guiará seus Desbravadores pelos
interessantes caminhos do conhecimento, partindo dos “lírios do campo”, como
Jesus fez (Mateus 6:28), passando pelas Escrituras, como Jesus fez (Lucas
24:27; João 5:39), avançará até desvendar diante de toda a sua Unidade ou Clube
a eterna e maior de todas as verdades, Jesus, o Filho de Deus, como o próprio
Jesus fez ao revelar-se ao povo (Lucas 4:28).
É possível resumir graficamente a epistemologia do Clube
de Desbravadores da seguinte forma:
“… A Bíblia deve ter o primeiro lugar na educação…”
“… o livro da natureza ocupa o lugar imediato
em importância.”
Quanto mais as pessoas conhecem a Verdade, mais têm
condições de se tornarem parecidas com Ela.
Lógica
Ao se deparar, por parte de um Desbravador, com a
seguinte afirmação: “Deus é amor, logo, Ele me ama. Assim, não importa
o que eu faça, no final Ele me salvará!” como um líder deveria
argumentar com ele?
Uma das disciplinas da filosofia que mais dá trabalho é a
lógica. O que é lógica? É o estudo sobre a coerência das coisas. Ou seja, o
estudo sobre as leis do pensamento e do raciocínio.
“O ideal máximo da lógica é a coerência. É
coerente aquilo que está de acordo com as regras ou condições do sistema”
(Antônio Teles, Introdução ao estudo de filosofia, p. 154).
Um Clube de Desbravadores
precisa de algo tão profundo? Sim. Pensamento incoerente gera atitudes
incoerentes. Pais e líderes precisam evitar tais atitudes com os filhos e
liderados. Os que se dedicam à crítica das ações humanas jamais se sentem tão
embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz todos
os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente e a tal ponto que não
parecem provir de um mesmo indivíduo. Acreditamos que a constância seja a
qualidade mais difícil de se encontrar no homem, e a mais fácil a inconstância.
Por isso precisamos estar mais aptos a dizer e viver a verdade.
Quando a incoerência da fala e
da atitude dos pais e líderes se manifestam, essas questões entram na cabeça
dos juvenis e eles, um dia, simplesmente acham que tudo o que o Clube/Igreja
falam não passam de falácias e coisas sem sentido. Por quê? Porque tendem a ser
incoerentes.
Assim, apresentamos alguns
princípios lógicos sobre a forma de pensamento de um Desbravador:
·
Deus valoriza e aprecia uma vida racional: “Rogo-vos,
pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional” (Romanos
12:1).
·
O pensamento lógico para o cristão se baseia num forte senso da
presença de Deus. “O temor do Senhor é o princípio da sabedoria e o
conhecimento do Santo é prudência” (Provérbios 9:10).
·
O cristão deve desenvolver a lógica da causa e efeito: “Ensinai
vossos filhos [Desbravadores] a raciocinar da causa para o efeito” (Ellen
White, Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 126).
· Nem tudo o que é lógico para o mundo é para o cristão: “porque
a sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus; pois está escrito: Ele
apanha os sábios na sua própria astúcia” (I Coríntios 3:19).
·
A lógica do Clube de Desbravadores está baseada numa firme
decisão pela obediência. O raciocínio é um dom de Deus, mas a obediência é um
imperativo na lógica cristã. “De tudo o que se tem ouvido, o fim é:
teme a Deus, e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo o
homem” (Provérbios 12:13).
·
A lógica interna do cristão exige obediência, mas uma obediência
baseada na fé. “Ora, sem fé é impossível agradar a Deus” (Hebreus
11:6).
Ética
Um desbravador indaga: “numa
situação crítica, seria correto matar para sobreviver?” Quem sabe o desbravador
pergunte: “numa situação crítica, uma pequena mentira salvaria a vida de alguém,
o mal menor seria tolerável para se evitar um mal maior?”. Cuidado! Muitas
vezes os líderes respondem aos Desbravadores o que, de fato, não fariam…
Um Desbravador perguntaria esse tipo de coisa? A verdade
é que sim, pois se não fizerem estas perguntas, farão outras com o mesmo teor –
o que é considerado certo ou errado em cada situação.
“A ética é o estudo dos valores morais e da
conduta”. (George Knight, Filosofia e educação: uma introdução da perspectiva
cristã, p. 29).
No dia a dia de atividades, o Clube se depara com muitas
decisões morais e éticas para serem tomadas. Um líder deve ter um profundo
senso do que Deus e Sua Igreja espera dele nesses momentos. O princípio maior
que deve permear a ética do cristão é o amor. Os procedimentos morais e éticos
do Clube devem partir da premissa “amar a Deus sobre todas as coisas e
o próximo como a ti mesmo”. (Mateus 22: 37-40). Sem esta base, as decisões
morais se basearão em sentimentos e experiências individuais e volúveis, o que
acarretará numa vida de Clube incoerente, pois as situações serão tratadas de
maneira desequilibrada e assimétrica, hoje de um jeito e amanhã de outro. Tudo
o que for feito deve ter um profundo conteúdo ético.
Se um Desbravador roubar um
objeto num acampamento, o que deve ser feito? O amor a Deus e ao Desbravador
exige uma correção. Mas essa correção deve ser pública? Como ficaria o amor ao
próximo? Contudo, o Desbravador, após diversas orientações, advertências e
aconselhamento não se afasta do mau caminho. Como se deve proceder? Qual é o
limite ético da tolerância?
Questões como essas ocorrem no
dia a dia do Clube. Assim, existem juvenis sem recursos financeiros, meninos e
meninas que são frutos de lares destruídos e conturbados, Desbravadores que
foram abandonados ao desenvolvimento violento e sem amor. Como tratá-las? Como
resolver problemas que permeiam a vida da direção do Clube? Afinal, todos são
humanos.
Como a humanidade não tem uma mente perfeita “por
misturar o mal com o bem, sua mente se tornou confusa, e entorpecidas suas
faculdades mentais e espirituais” (Ellen White, Educação, p. 25) os
líderes devem ter a humildade de admitir que precisam do conselho divino para
discernir entre o bem e o mal. Devem aceitar que “aqui está a única salvaguarda
à integridade individual, pureza do lar, bem-estar da sociedade ou estabilidade
da nação. Por entre as perplexidades, perigos e exigências contraditórias da
vida, a única segurança e regra certa é fazer o que Deus diz: “Os
preceitos do Senhor são retos”. (Sal. 19:8). Novamente o Clube se encontra
não com um sistema de regras (leis e preceitos), mas com um sistema de regras
baseadas no amor a Deus e ao próximo, pois “destes dois mandamentos
depende toda a lei e os profetas” Mateus 22:40.
Estética
“Por que não posso usar tatuagem, piercing ou um cabelo
estilo punk? Eu acho bonito!”. Às
vezes, muitos juvenis fazem esses questionamentos. Qual resposta eles ouvem?
Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762), filósofo que
foi considerado por muitos estudiosos como o “fundador” da estética como
verdadeira disciplina acadêmica, disse certa vez que o belo seria a perfeição
apreendida pelos sentidos. O Clube de Desbravadores não pode concordar com esta
definição. Embora os sentidos humanos, principalmente a visão, possam captar o
belo e é possível apreciá-lo, o belo é mais que uma sensação, é um princípio
divino, pois Deus é o criador do belo.
“Como o
Autor de toda a beleza, sendo Ele próprio amante do belo, Deus proveu o
necessário para satisfazer em Seus filhos o amor do belo. Também providenciou
para as suas necessidades sociais, para a associação amável e edificante, que
tanto faz para que se cultive a simpatia e se ilumine e dulcifique a vida”
(Ellen White, Educação, p. 41).
“Ele é o autor de toda a beleza, e,
unicamente ao nos conformarmos com Seus ideais havemos de aproximar-nos da
verdadeira norma de beleza.” “Aquele que pôs as pérolas no oceano e a ametista
e o crisólito entre as rochas é um amante do belo.” (Ellen White, Ciência do
Bom Viver, p. 292 e 412).
O Clube de Desbravadores também
é um movimento estético, pois almeja contribuir com a restauração da imagem de
Deus no homem, restaurando-o à sua beleza original. Contudo, embora a beleza
física seja um valor no sistema filosófico moderno, ela não é um elemento
essencial no mundo de pecado. Antes, a beleza do caráter é o elemento essencial
na escala de valores cristãos.
Ellen White pergunta:
“No dia em que forem ajustadas as contas de
todos, experimentareis alegria ao passar em revista vossa vida, ou sentireis
que a beleza do homem exterior é que foi buscada, enquanto ficou quase de todo
negligenciada a beleza interior, da alma?”. (Ellen White, Testemunhos Seletos,
vol. 1, p. 593).
A preferência do Clube de Desbravadores pela natureza
como local e objeto de instrução está em conexão com o projeto estético de
Deus.
“Deus ama o belo. Revestiu a Terra e o céu de
beleza, e com alegria paternal contempla o deleite de Seus filhos nas coisas
que criou. Ele deseja que circundemos nossas habitações com a beleza das coisas
naturais. Quase todos os moradores do campo, se bem que pobres, poderiam ter ao
redor de suas moradas um pedaço de gramado, algumas árvores de sombra, arbustos
floridos, ou flores fragrantes. E, muito mais que os adornos artificiais,
contribuirão para a felicidade do lar. Trarão para a vida doméstica influência
amenizante, aperfeiçoadora, robustecendo o amor da Natureza, e atraindo mais os
membros da família uns para os outros, e para Deus.” (Ellen White, A ciência do
bom viver, p. 370).
Política
“Como eu faço para ser Diretor(a) um dia?”. “Eu gostaria
de ser um Regional, o que eu tenho que fazer?”. O que um líder deve fazer ao se deparar com essas
indagações?
A política é a disciplina
filosófica que trata do poder. O Clube de Desbravadores tem uma filosofia clara
quanto ao mandato e exercício do poder. Assim, todo líder deve ter esses
princípios desenvolvidos em sua vida, para que a compreensão filosófica deste
tema normatize suas atitudes no exercício de sua liderança, autoridade e poder.
·
Todo poder emana de Deus ou de sua tolerância. “Toda a
alma esteja sujeita às autoridades superiores; porque não há autoridade que
não venha de Deus; e as autoridades que há foram ordenadas por Deus” (Romanos
13:1). Assim, a Igreja de Deus aceita o ordenamento hierárquico como uma
necessidade e uma bênção para a comunidade. Além disso, o poder eclesiástico
tem uma forma correta de ser definido. Respeitam-se os talentos naturais e
dons espirituais (I Coríntios 12), leva-se em consideração a experiência do
evangelho (I Timóteo 3:13) e por um sistema democrático de escolha (Atos 6:3)
os cargos e funções são preenchidos.
·
A igreja e o Clube de Desbravadores repudia o exercício
individual ou oligárquico do poder sobre as outras pessoas.
“Mas quando numa assembleia geral, é exercido
o juízo dos irmãos reunidos de todas as partes do campo, independência e juízo
particulares não devem obstinadamente ser mantidos, mas renunciados. Nunca deve
um obreiro considerar virtude a persistente conservação de sua atitude de
independência, contrariamente à decisão do corpo geral.“ (Ellen White,
Testemunhos Seletos, vol. 3, p. 408).
O poder é para servir e não para ser servido. Jesus
ensinou esta lição por preceito e exemplo (Mateus 20:27; 23:11). Ao terminar o
serviço do lava pés perguntou: “compreendeis o que vos fiz?” (João
13:12).
No tratamento com o outro, a política do Clube de
Desbravadores é considerar o outro mais importante que ele mesmo. “Ninguém
busque o proveito próprio; antes cada um o que é de outrem” (I
Coríntios 10:24). “Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por
humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo” (Filipenses
2:3).
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