“Projeto Missão Karajás”
Os
dias 22 a 28 de julho foram de atividade intensa para os 400 líderes de
Desbravadores da UCB que visitaram os índios Carajás, na Ilha do Bananal.
Segundo o relatório apresentado pela União, 1.598 foi o total de índios
atendidos. Os Desbravadores realizaram melhorias nos encanamentos de água,
consertaram cercas, cavaram fossas e limparam as aldeias, recolhendo 2.390
sacos de lixo. Também foi feito um mutirão de higiene que atendeu 434 crianças.
Além disso, os Desbravadores vacinaram 230 cães.
O barco cruzava o rio Araguaia quando a criança nasceu. Everton Cintra foi quem lhe deu os primeiros cuidados médicos. Tirou a camisa que vestia e abrigou o bebê em seus braços. Depois de 45 minutos, chegaram ao hospital, na cidade de São Félix do Araguaia, MT: o recém-nascido, a mãe, a avó e o estudante de medicina.
Aos 24 anos, ele está concluindo o curso na universidade adventista da Argentina e dedica um ano de sua vida em favor dos índios carajás. Colegas de Everton na universidade, Albert Schueitzer e Giselle de Oliveira também decidiram passar um ano entre as comunidades indígenas no sudoeste do Tocantins.
“Sempre tive o sonho de ser missionário”, diz Albert, já acostumado a viagens de barco de mais de 10 horas. “Encarei esse trabalho como um chamado de Deus para mim.” O chamado veio por intermédio da ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais) que trata da saúde de comunidades carajás, na Ilha do Bananal – a maior ilha fluvial do mundo, com 22.400 km2, superando em tamanho o Estado de Sergipe.
Trabalho comunitário – Nos dias 22 a 28 de julho, a ADRA ganhou um poderoso reforço em seu trabalho: a presença atuante de 400 líderes de Desbravadores da União Central Brasileira (UCB). Eles ficaram divididos nas principais aldeias em que a ADRA mantém postos de saúde: Macaúba, São Domingos, Fontoura, Santa Isabel, JK e Wataú.
No dia 28, todos se reuniram para o encerramento das atividades em Santa Isabel, a maior das aldeias, com cerca de 700 moradores. O momento foi marcado pela gratidão manifestada tanto pelos índios como pelos visitantes. Idiarrina Carajá, o cacique, afirmou: “Estou feliz da vida com a presença dessas visitas. Nós lutamos para que eles viessem e graças ao grande Deus estão aqui.” A presença dos Desbravadores na ilha foi requerida pelos caciques junto à Fundação Nacional do Índio (Funai), abrindo a entrada aos visitantes. A legislação atual impede que até mesmo a polícia estadual entre em território indígena. Os números do trabalho explicam a alegria do cacique. A população das aldeias, junta, totaliza aproximadamente 1.600 pessoas. Segundo o relatório apresentado pela União, 1.598 foi o total de índios atendidos. Os Desbravadores realizaram melhorias nos encanamentos de água, consertaram cercas, cavaram fossas e limparam as aldeias, recolhendo 2.390 sacos de lixo. Também foi feito um mutirão de higiene para as crianças.
Os pequenos foram ensinados a escovar os dentes de forma correta e alguns receberam aplicação de flúor e tratamento contra piolho. As 434 crianças atendidas no mutirão também participaram de unidades da escola cristã de férias. Ainda foram doados 4.885 brinquedos, escovas e pastas de dente, sabonetes, sabão e buchas. Além disso, os Desbravadores vacinaram 230 cachorros.
Além da amizade, os momentos de recreação ficaram marcados na memória dos acampantes. Senão de todos, ao menos na mente de Juliana Ramos, 18 anos, de Tatuí, SP. Numa tarde ela nadou a poucos metros de um dos muitos jacarés que povoam as águas do rio. Distraída, só soube do ocorrido quando chegou à margem e viu a expressão de espanto dos índios.
A iniciativa de levar 400 pessoas para a Ilha do Bananal foi dos Pastores Paulo Bravo e Udolcy Zukowski, líderes da juventude na UCB. Para julho do próximo ano eles já planejam o retorno, atendendo ao pedido dos caciques. O líder sul-americano de Desbravadores José Maria Barbosa esteve durante três dias entre os acampantes. De acordo com ele, a excursão foi uma maneira eficaz de revigorar o espírito missionário entre os jovens.
Atuação da ADRA – O trabalho adventista em prol dos Carajás, iniciado pelo Pastor Allen e a esposa, teve sequência até os anos 70 com os casais missionários Isaac e Joaquina Fonseca, Alvino e Maria José de Campos, e Calebe e Abigail Pinho. Naquela década, contudo, a atuação adventista foi considerada uma ameaça à cultura indígena por autoridades federais. Lanchas médicas foram desativadas e prédios construídos com esforço ficaram em ruínas.
Mas os anos de separação não acabaram com o amor dos adventistas pelos índios do Araguaia. No ano passado a Igreja voltou à Ilha do Bananal, agora por meio da ADRA. Contatos entre a Associação Planalto Central - (APLAC), a ADRA da UCB e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) resultaram em um acordo no qual a agência adventista recebe 1,3 milhão de reais anuais para cuidar da saúde dos índios, em sete aldeias.
Entre as organizações não governamentais que realizam trabalho semelhante, foi considerada a que melhor presta contas na utilização dos recursos.
No ano passado, sete postos de saúde foram construídos ou reformados, e todos eles equipados. Profissionais foram contratados para atender diariamente a população. Na aldeia de Macaúba, onde vivem 350 índios, são realizados em média 80 atendimentos mensais. O acordo estabelece a contratação de um médico, um dentista, um enfermeiro, seis auxiliares de enfermagem e 10 agentes de saúde (os próprios índios, formados em auxiliar de enfermagem). O contrato também prevê a manutenção da estrutura administrativa local e pessoal de apoio. Com o serviço prestado em 2000, a mortalidade infantil foi reduzida em mais da metade, informa Wisllay Bastos, coordenador local da ADRA. De acordo com ele, para continuar melhorando os índices, além de médicos e remédios “é preciso cuidar da infraestrutura”. Para atender essa necessidade estão sendo construídos 170 banheiros nas aldeias e um sistema de coleta de lixo está sendo montado, entre outros cuidados.
Cultura valorizada – Nem só da verba federal vive a agência adventista. Os projetos de saneamento e agricultura para as aldeias serão construídos com dinheiro que vem da ADRA Irlandesa. Os mesmos recursos irão financiar a construção do Centro Cultural Indígena, em São Félix, que servirá como uma cooperativa para a venda de artesanato. Samuel Yriwana Carajá, cacique de São Domingos, explica que o artesanato indígena é comprado dos índios a preço baixo e revendido por somas muito elevadas. O centro pretende acabar com essa distorção. Samuel tem 36 anos e é advogado. Ele afirma admirar o trabalho da Adra, por não considerar o índio apenas como um recebedor de benefícios, mas como “sujeito da transformação”. A pedra fundamental do centro de cultura foi lançada no dia 27 de julho. Líderes adventistas, indígenas e da administração municipal estiveram presentes. O trabalho da ADRA entre os carajás é coordenado pelos Pastores Daniel dos Santos, da União, e Elton de Oliveira, da APLAC. Eles ocupam-se fundamentalmente de arrecadar recursos e prestar contas de sua utilização. Todos os meses, Elton deixa seu escritório, em Brasília, para cuidar de perto dos projetos. O Pastor Daniel também faz várias visitas por ano às aldeias. O Pastor Ronald Kuhn, coordenador sul-americano da agência adventista, esteve pela primeira vez entre os carajás. Ele afirma que os adventistas não estão lá para modificar a cultura, e sim para “compartilhar bons hábitos de saúde e de vida”. Os líderes da APLAC, Pastores Pável Moura, presidente, Ademir de Oliveira, tesoureiro, e Valmir Carneiro, secretário, marcaram presença durante a estada dos Desbravadores, acompanhados do Pastor Oliveiros Ferreira, líder de Missão Global da UCB. Os adventistas estão de volta à Ilha do Bananal. Agora, com ânimo redobrado.
Salão comunitário é Inaugurado
Durante
os sete dias em que estiveram na aldeia de Santa Isabel, os desbravadores
ajudaram a rebocar um salão comunitário com lugar para 150 pessoas, inaugurado
no dia 28 de julho. Dentre outras atividades, o salão será usado pelo Pastor
adventista João Werreriá e o obreiro bíblico Teuahura, ambos Carajás, para
mostrar à comunidade indígena os princípios adventistas que podem ajudá-los a
superar problemas atuais, como a dependência do álcool.
Durante os cerca de 20 anos em que a Igreja esteve afastada da comunidade, Werreriá e Teuahura foram os adventistas remanescentes na localidade. Vendo agora a atuação da ADRA e a visita dos Desbravadores, demonstram grande satisfação. Além dos Desbravadores, Maurício Sainz, da Igreja Central de Artur Nogueira, ajudou a levantar o salão. Ele e outros três amigos foram responsáveis por preparar o alicerce e o madeiramento. Na inauguração, as palavras dos Pastores Oliveiros Ferreira, da UCB, e Pável Moura, da APLAC, foram seguidas do discurso de Maurício, na língua Carajá.