Pastor Rodolpho Gorski
Líder conciliador,
visionário e humano
Filho de pioneiros do adventismo no
estado de São Paulo, Rodolpho Gorski dedicou mais de quatro décadas ao
ministério adventista. O conhecido pastor e administrador morreu neste domingo,
aos 84 anos, devido a complicações causadas pela Covid-19
Além do pastor Rodolpho, três de seus
irmãos Nevil, Darcy e Derly) também dedicaram a vida ao Ministério pastoral.
Legado que continua sendo transmitido de geração em geração nessa grande
família, formada por mais de 200 pessoas. Crédito da imagem: arquivo da família
De origem polonesa, a família Gorski
tem uma genética privilegiada. O pai, Guilherme, viveu 99 anos. A mãe,
Cornélia, 95. A filha mais velha, Nair, faleceu no ano passado com 100. Nevil,
quarto dos nove filhos do casal, já completou 96. E Rodolpho, penúltimo
herdeiro, tinha vigor físico e mental para ir tão longe quanto os demais.
Mas o conhecido pastor adventista morreu neste domingo (21), em São Paulo.
Apesar de ter conseguido sobreviver a um quadro inflamatório, que chegou a
comprometer cerca de 90% dos seus pulmões, Rodolpho, que já se recuperava em
casa, voltou a ser hospitalizado por causa de um sangramento no intestino,
provavelmente relacionado à chamada síndrome pós-Covid. E, infelizmente, não
resistiu a duas paradas cardiorrespiratórias.
“É um momento de profunda tristeza em
meio a uma guerra ingrata. Mas um detalhe que merece ser destacado: nunca me
esquecerei da calma e atitude resoluta do pastor Gorski”, relata o doutor
Everton Gomes, cardiologista que atende na UTI do Hospital Adventista de São
Paulo.
Apesar de ter a vida encurtada pela
pandemia, o pastor Rodolpho viveu 84 anos bem vividos e deixou um grande legado
para a igreja. De família tradicional adventista, o paulista nasceu no dia 10
de julho de 1936, em Itararé (SP), cidade onde seus pais estabeleceram a
terceira igreja mais antiga do estado e também um colégio adventista que
funciona até hoje.
Embora,
na infância, Rodolpho pensasse em ser motorista de caminhão, datilógrafo,
professor de matemática ou engenheiro, aos 14 anos de idade, enquanto
colportava na cidade de Presidente Prudente (SP), decidiu que seria um ministro
do evangelho. Aliás, décadas mais tarde, ele diria que, além de prepará-lo para
o ministério pastoral, a venda de literatura de porta em porta ensinou-lhe
grandes lições sobre a dependência de Deus e as relações humanas (Rubens Lessa,
“Colportagem: um estilo de vida”, Revista Adventista,
agosto de 1992, p. 31).
Ao
longo de seus 42 anos de ministério, ocupou diversas funções. Primeiro,
trabalhou como pastor de igrejas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Depois,
serviu como líder de jovens. No período em que foi departamental dessa área na
antiga União Sul-Brasileira, que, na época, abrangia Mato Grosso do Sul, São
Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, promoveu grandes
acampamentos e congressos. Inclusive, em 1970, organizou, juntamente com o
pastor José Silvestre, o primeiro Campori de Desbravadores no território paulista.
E, em 1973, mobilizou muitas pessoas em ações evangelísticas e assistenciais no
“Ano da Juventude”. Apesar da idade, ele tinha um espírito jovem. E,
coincidentemente, faleceu no fim de semana em que foi comemorado o Dia Mundial
do Jovem Adventista.
Além de ter atuado como secretário
executivo da igreja nessa mesma geografia, o pastor Rodolpho foi presidente da
Missão Brasil Central (1978-1980), com sede em Goiânia (GO), da Associação
Paulista Sul, sediada no Brooklin (1982-1984), em São Paulo, e, por fim, da
União Sul-Brasileira (1986-2001), em Curitiba, por ocasião de sua
reconfiguração territorial.
“Sempre
procurei ter uma liderança participativa em vez de exercer uma liderança
autocrática”, ele disse em uma entrevista recente ao quadro “Pioneiros de Luz”,
divulgado no canal do Centro Nacional da
Memória Adventista no YouTube.
Durante
o período em que liderou a igreja no Sul do país, uma das ênfases do pastor
Rodolpho foi a educação. Ele buscou aprimorar o sistema de gestão dos recursos
e estruturou os internatos. Nesse sentido, talvez tenha recebido forte
influência do irmão, Nevil, a quem considerava “um segundo pai” e que foi
o primeiro reitor do Unasp.
Além de pastor e administrador, o
paulista também tinha talento para a música. Durante 12 anos, integrou o
quarteto Harmonia, grupo musical do antigo IAE (atual Unasp, campus São Paulo).
Muitas outras qualidades e traços de
sua personalidade também foram lembrados neste domingo por amigos, líderes da
igreja e pessoas que ele pastoreou.
“Ele me ensinou a colocar minhas
tristezas aos pés do Salvador”, disse uma internauta ao expressar seus
sentimentos à família.
“Os sermões e orientações do pastor
Rodolpho fizeram a diferença na minha vida e certamente também fizeram na vida
de milhares de obreiros”, declarou outro admirador no Facebook de um dos
filhos.
“Ele foi um líder espiritual,
companheiro amigo e sábio conselheiro”, expressou Daniel Bahia, líder da
associação de pastores jubilados da qual o pastor Rodolpho fazia parte.
“Era um homem gentil e alegre. Um
líder muito capaz e de fino trato. Um servo de Deus sábio e vigoroso!”,
declarou o pastor Edson Erthal de Medeiros, diretor financeiro da sede da
igreja para o estado de São Paulo, no perfil que o pastor Rodolpho mantinha no
Facebook.
“Fui abençoado nos anos em que tive o
privilégio de trabalhar na USB sob a liderança do pastor Rodolpho”, disse o
pastor Almir Marroni, hoje líder do departamento de Publicações da Associação
Geral.
Em nota publicada no Portal
Adventista, o atual líder da sede da igreja para os estados do
Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, pastor Marlinton Lopes, também
expressou que ele foi um “líder humano, estratégico e visionário”, que liderou
os primeiros 15 anos da União Sul-Brasileira, “deixando um legado espiritual e
administrativo em uma geração de pastores, líderes e membros”. Também foi
ressaltado que, “mesmo aposentado, dedicava seu tempo e talentos à causa de
Deus atendendo a convites de pregações e aconselhamentos”.
Além
disso, Rodolpho Gorski também deixou um legado escrito que foi além dos vários
artigos que ele publicou nas páginas da Revista Adventista.
Vale destacar que algumas das suas reflexões e de seus conselhos que ficaram
registrados na obra intitulada Uma Palavra Amiga (CPB,
2003) continuarão fazendo companhia para os leitores do devocional de 2021, que
traz uma seleção de textos das Meditações Diárias publicadas ao longo da
história da Casa Publicadora Brasileira.
O pastor Rodolpho deixa sua segunda
esposa, Diva (com quem é casado desde março de 2020), os filhos Cleverson,
Guilherme e Kenia (fruto do casamento com a professora Ilda Banhos, com quem
viveu 59 anos, até a morte dela, em 2018), oito netos e cinco bisnetos.
A
última homenagem da família e da igreja será transmitida pelo YouTube nesta segunda-feira, 22 de março, a partir
das 12h.
MÁRCIO TONETTI é editor associado
da Revista Adventista
Reportagem da Revista Adventista
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